(pensando na Europa de hoje)
Grande, talvez o maior pintor do Romantismo alemão, reflectindo nas suas obras a saudade de uma nação que fora humilhada pelos franceses de Napoleão e desejava agora uma unidade que nunca tinha tido. Seria a Prússia que, de Berlin, e derrotado Napoleão pelos ingleses, em Waterloo, pela mão do Rei Frederico irá tentando concretizar esse ideal. Neste video, em que circulam as imagens dos seus quadros, o que mais se destaca é a dimensão de um céu que é absoluto, face à peqeunez das personagens, quando existem.
O autor do video chamou-lhe - vou traduzir a meu modo - Maravilhamento e Entrega: Wonder and Surrender.
E de facto, se pudessemos ficar umas horas em Berlin, no Museu, sentados em contemplação silenciosa, a emoção maravilhada seria a reacção mais natural.
Por várias razões: pela arte subtil, sem dúvida, mas acima de tudo pela dimensão da mensagem que ali ficou cifrada e nos desafia até hoje.
A Mulher à Janela, de costas para nós, os outros, fechada nos segredos e desejos do seu mundo, que talvez não caibam nas quatro paredes dessa sala.
O gosto pela natureza selvagem, carregada de símbolos e mitos que alimentaram poemas e baladas de Goethe, Heine e outros, que Schubert transformou em Lieder e nessa natureza a emoção que os enormes céus, longes, abertos, despertam no pintor e em quem o vê. Este é o céu, talvez carregado de promessas de uma Alemanha livre e consciente de si própria, do seu destino místico e profético, de um verdadeiro romântico: o que busca o sentido do destino, da alma, da existência própria e da sua pátria.
Esta nostalgia da pátria condutora, por se sentir maior e melhor nos seus valores, está já expressa em Fichte, o filósofo que perante a invasão napoleónica clama para que se ergam os mais bravos, os mais nobres da nação alemã. E faz a longa e patriótica enumeração das qualidades que só os alemães possuem, como podemos ler nos célebres Discursos à Nação Alemã. Fichte é, no século XIX, o rosto político de um Lutero do século XVI, também ele desprezando o sul católico e pervertido, sem moral.
Neste ambiente se formam culturas, pensamentos, obras de criadores. Richard Wagner será quem leva mais longe este Romantismo mítico exarcebado.
Dos quadros de Caspar David, um que não se encontra neste video, mas será fácil encontrar pelo google, eu gosto especialmente, e logo pela sugestão do título, do óleo Der Wanderer ( O Viandante, ou o Caminhante) em que vemos um homem solitário de pé sobre uns rochedos, de costas para nós num mar de nevoeiro (este virar de costas, nas suas personagens é muito significativo de uma recusa do mundo, em busca de outra coisa, noutro mundo) e absorto na contemplação de um céu imenso que se torna no principal "actor" (perdão pela banalidade) da encenação que o quadro pressupõe: a encenação de um grito de alma, de um apelo (como o de Fichte) de uma saudade de algo que nunca existiu, do Todo e Uno da Pátria, também ela corpo e alma na dissolução de um sonho.
Mas o sonho está ali mesmo à frente, no horizonte imenso, no céu que absorve e distrai.
O caminho é "para lá", immer weiter, até que sentido e destino, Ser e Tempo, de novo se confundam.
O grave é que esse homem de pé no mar de nevoeiro que o envolve corre perigo: o perigo de simplesmente não ver, de tanto querer ver mais e melhor.
Esta nostalgia da pátria condutora, por se sentir maior e melhor nos seus valores, está já expressa em Fichte, o filósofo que perante a invasão napoleónica clama para que se ergam os mais bravos, os mais nobres da nação alemã. E faz a longa e patriótica enumeração das qualidades que só os alemães possuem, como podemos ler nos célebres Discursos à Nação Alemã. Fichte é, no século XIX, o rosto político de um Lutero do século XVI, também ele desprezando o sul católico e pervertido, sem moral.
Neste ambiente se formam culturas, pensamentos, obras de criadores. Richard Wagner será quem leva mais longe este Romantismo mítico exarcebado.
Dos quadros de Caspar David, um que não se encontra neste video, mas será fácil encontrar pelo google, eu gosto especialmente, e logo pela sugestão do título, do óleo Der Wanderer ( O Viandante, ou o Caminhante) em que vemos um homem solitário de pé sobre uns rochedos, de costas para nós num mar de nevoeiro (este virar de costas, nas suas personagens é muito significativo de uma recusa do mundo, em busca de outra coisa, noutro mundo) e absorto na contemplação de um céu imenso que se torna no principal "actor" (perdão pela banalidade) da encenação que o quadro pressupõe: a encenação de um grito de alma, de um apelo (como o de Fichte) de uma saudade de algo que nunca existiu, do Todo e Uno da Pátria, também ela corpo e alma na dissolução de um sonho.
Mas o sonho está ali mesmo à frente, no horizonte imenso, no céu que absorve e distrai.
O caminho é "para lá", immer weiter, até que sentido e destino, Ser e Tempo, de novo se confundam.
O grave é que esse homem de pé no mar de nevoeiro que o envolve corre perigo: o perigo de simplesmente não ver, de tanto querer ver mais e melhor.