Mais do que uma vez tenho referido que no trabalho de palco de uma ópera o encenador é o terceiro intérprete.
Neste exemplo que escolhi, de Alban Berg, é contudo nele que devemos fixar a atenção. Como segundo intérprete de um texto e na qualidade de compositor como seu renovado criador.
O texto, suporte do libretto, é da autoria de Frank Wedekind (1864-1918) o grande iniciador, ou um dos grandes, do Expressionismo Alemão, primeiro com a sua peça Despertar da Primavera, que se transformou no grito de libertação da sexualidade juvenil reprimida, quebrando os tabús morais da época numa Alemanha cujos códigos eram ainda, ao tempo, fortemente condicionados pela norma do Protestantismo luterano e não apenas pelo Catolicismo, como frequentemente se julga.
As peças seguintes, O Espírito da Terra e A Caixa de Pandora transitam já para um espaço mais alargado, adulto e em que se desnudam os vícios e a corrupção moral de uma sociedade decadente.
Lulu, mulher fatal, Eva negra, é descrita ao mesmo tempo como falsa ingénua e prostituta assasina que morrerá por sua vez às mãos de um assassino: Jack o Estripador figura que se tinha celebrizado pelas piores razões. Interessante é o facto de Wedekind, no seu desejo de tornar real para além do real o suporte do seu drama, se ter inspirado nas notícias de um quotidiano que foi bem conhecido. Mas perdura no imaginário da sua criação uma Lulu eterna, ambígua, que se torna personagem de eleição de criadores futuros, como é o caso de Berg.
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