No post anterior, dedicado à ópera Lulu, sobre libretto fiel aos dois dramas de Wedekind que lhe dão o suporte literário e temático, Berg explora de modo inspirado esta ideia a que me refiro de um corpo que fala, melhor, que grita, levado como é por pulsões incontroláveis de um ego sexualizado até ao limite da própria pulsão da morte, que provoca e a que na verdade se entrega.
No caso da ópera Wozzeck, inspirada por outro expressionista, Georg Buechner, iremos encontrar uma outra figura de mulher infiel, mas o personagem que concentra todo o drama, toda a tragédia em si mesmo é o pobre soldado Wozzeck, enganado, é certo, mas sobretudo constantemente humilhado pelos seus superiores, entre eles o médico que faz dele um objecto das suas experimentações cruéis sobre um pobre de espírito.
O sucesso desta obra deve-se também, sem dúvida, ao que nela se antevê de um futuro que estava ao virar da página, com a ascenção do nazismo numa Alemanha emudecida, como o pobre soldado.
Mas considremos o tema: é na minha opinião o de uma voz que se cala, se vai calando, incapaz de articular num protesto coerente o tumulto que lhe vai na alma, até uma explosão final, e fatalmente destrutiva: Wozzeck, o humilhado, acaba por matar a mulher que foi mediadora de tanta humilhação.
Estas óperas, e já as próprias peças de teatro permitem, na questão do terceiro intérprete que seria o encenador, discutir algo de interessante: actualizar ou não para um tempo mais próximo o tratamento das figuras e situações principais.
Estas óperas, e já as próprias peças de teatro permitem, na questão do terceiro intérprete que seria o encenador, discutir algo de interessante: actualizar ou não para um tempo mais próximo o tratamento das figuras e situações principais.
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